quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O guerreiro Ramsés II


A entrada da cidade está coberta de cadáveres. Desesperado, o sacerdote queima resina em um fogareiro, num ritual de magia, pedindo socorro aos deuses enquanto chora pelos mortos. Não funciona. O poderoso Exército egípcio parece invencível. Acaba de romper a machadadas as portas da fortaleza, o último baluarte de resistência de Biblos, a capital do reino de Amurru (no atual Líbano), aliado dos hititas.

A conquista de Biblos, em 1285 a.C., é um marco na história. Sob o comando de Ramsés II, o Egito está para se tornar o maior império do mundo antigo. Poderoso e rico, o país se tornará uma potência militar, conquistará territórios dos hititas ao norte, dos assírios a leste e dos núbios ao sul, até atingir seu tamanho máximo. Trará escravos, novas matérias-primas e tecnologia. Será o apogeu econômico e cultural do Egito.



GAROTO BOM DE BRIGA

Filho e neto de guerreiros, Ramsés II assumiu o poder com 25 anos, em 1290 a.C., e lançou-se em um esforço militar inédito. Em sua primeira campanha militar, com apenas 10 anos, participou da retomada do litoral do Líbano ao lado do pai, Sethi I. Logo nos primeiros anos de governo, Ramsés II levantou uma rede de fortificações perto das fronteiras. Engolidas pelo tempo durante três milênios, essas cidadelas estão agora voltando à luz.

Em abril deste ano, arqueólogos americanos descobriram 11 fortalezas na península do Sinai, entre o Egito e a Palestina. Segundo o arqueólogo Peter Brand, da Universidade de Mênfis, no Egito, elas provam que a intenção do faraó não era apenas a de se defender de invasões, mas criar uma espécie de via militar por onde poderia deslocar de forma rápida e segura grandes contingentes de soldados. “Havia poços de captação e canais de distribuição de água. Encontramos armazéns e vestígios de alimentos como cevada, rabanete, alho e carne de boi, antílope e gazela, além de favos de mel, tâmaras, figos, leite e vinho. E grande quantidade de estábulos, o que também indica o movimento de tropas no local”, afirma Brand.

Outro ponto fundamental foi a profissionalização do Exército. “Os militares passaram a ganhar como nunca, com os generais recebendo terras no Egito equivalentes ao território conquistado”, afirma o historiador francês Pierre Monet. “Com tal rede de fortificações e com soldados bem alimentados e muito bem pagos, era natural que Ramsés tivesse planos mais ambiciosos.”

CAPITAL AZUL-TURQUESA

Fruto dessa ambição foi a criação da nova capital do Egito, que ele batizou de Pi-Ramsés. “Um guerreiro deveria ficar próximo de seus exércitos, por isso Ramsés II mandou construir sua capital perto do delta do Nilo, quase na fronteira com a Palestina. Seu novo endereço passou a abrigar toda a corte egípcia e a nata de seus comandantes e generais. As outras capitais oficiais, Mênfis, Heliópolis e Tebas, continuaram exercendo o papel de centros políticos e religiosos”, diz a historiadora francesa Bernardette Menu.

As ruínas de Pi-Ramsés, descobertas no início dos anos 80, revelaram uma imagem fabulosa da capital. A cidade, toda decorada em azul-turquesa, era esplendorosa, como relata um antigo papiro datado de cerca de 1200 a.C., assinado por um escriba chamado Pabasa: “A capital é extremamente próspera. Seus campos abundam com todo tipo de produto; seus canais são repletos de peixes e suas pradarias são de pastagens verdejantes”. Mas o que mais surpreendeu os arqueólogos foi a estrutura militar montada por seu governante. “Havia um sofisticado complexo industrial especializado na produção de armas e carros de guerra. Não sabemos ainda qual era o tamanho do Exército de Ramsés, mas agora temos certeza de que foi o maior da Antiguidade”, diz Brand. Artesãos, ferreiros, criadores de animais, todos eram empregados dessa indústria bélica. “Eles faziam carros de batalha, lanças de cobre, espadas e dardos. É possível que também fabricassem barcos.”

Quando punha para funcionar sua azeitada máquina de guerra, Ramsés raramente era derrotado. Confiantes, cerca de 30 mil soldados egípcios chegaram, em abril de 1274 a.C., à planície de Beirute, no Líbano. Um dos confrontos mais famosos do mundo antigo, a batalha de Qadesh, estava para começar. A cidade demarcava os limites entre os impérios egípcio e hitita, que ia do norte da Palestina até a atual Turquia. O conflito entre as duas nações mais poderosas da época durou 15 anos e resultou numa matança até então nunca vista.

Depois desse início de governo fulminante, Ramsés usufruiu cerca de 50 anos de paz – seu reinado todo durou 67 anos. Teve tempo e cabeça para usar a fortuna que conquistou na construção de um legado único em obras e na documentação de seus feitos. Depois de sua morte, o Egito nunca mais foi o mesmo. Pouco mais de 150 anos depois, experimentava um amargo declínio. Nem a tumba do mais poderoso faraó de todos os tempos escapou da decadência. Assaltada por ladrões menos de dois séculos depois de seu funeral, sobrou dela apenas a múmia do temível soberano.

site:http://historia.abril.com.br/politica/guerreiro-ramses-ii-435408.shtml

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