terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bandeirantes: destruir para dominar


Filhos de portugueses com mulheres da terra, os bandeirantes eram muito parecidos com os índios. Andavam por aí descalços e com roupas para lá de estropiadas – e não com roupas e botas de couro limpinhas, como muita gente acredita. Durante 200 anos, entre os séculos 17 e 18, esses homens, saídos principalmente de São Paulo, se embrenharam no mato para buscar índios, que eles capturavam para usar em suas próprias fazendas ou vender como escravos. Graças a eles, o Brasil ficou muito maior do que deveria ser, já que o Tratado de Tordesilhas, assinado entre Espanha e Portugal em 1494, dava aos portugueses só o nosso litoral. Os bandeirantes aumentaram o tamanho do nosso país, mas também provocaram um rombo de população. Eles mataram e prenderam tantos índios que o nosso interior ficou bem mais vazio.

O primeiro bandeirante da história é o português João Ramalho, que, ainda no começo do século 16, fez amizade com a poderosa tribo dos tupiniquins. Esperto e violento, esse pioneiro tinha várias esposas e uma multidão de filhos. Por um lado, foi ele quem garantiu o apoio dos índios para fundar a cidade de São Paulo. Por outro, sua aliança com os tibiriçás provocou o fim de outras tribos, como os tupinambás. Quando o rei de Portugal estimulou uma parceria com os tupinambás, um processo parecido aconteceu no interior da província.



Com isso, São Paulo ficou sem escravos fáceis de caçar. Foi então que começaram a surgir, para valer, os grupos de bandeirantes, que procuravam os índios onde quer que eles estivessem. Sempre descalços, os bandeirantes usavam arco e flecha, espadas e armas de fogo. Tinham armaduras de couro de anta e camisas de algodão cru. Eles começaram pelo Sul do Brasil. Em 1628, Antônio Raposo Tavares liderou uma expedição contra as regiões onde os índios guaranis viviam pacificamente com os padres jesuítas – as chamadas Missões. Quem resistia aos ataques morria na hora, e os reféns muito idosos eram largados no meio do caminho de volta. Logo os guaranis eram a mão-de-obra mais usada na capital paulista.

Quando os guaranis ficaram raros e difíceis de prender, os bandeirantes foram para o Planalto Central. Mas ali os índios estavam prontos para a luta. Veja o caso dos guaicurus, no Pantanal. Em 1720, surgiram boatos de que a região de Cuiabá tinha ouro. Algumas levas de bandeirantes correram para lá, mas nunca conseguiram dominar a área por causa dessa tribo poderosa.

Mestres da cavalaria

Não foram só os paulistas que apanharam dos índios. Durante 250 anos, espanhóis, portugueses e paraguaios recuaram, ou então tentaram negociar. Bons guerreiros e homens espertos, eles formaram um pequeno império naquela região. A cada tentativa de invasão, aproveitavam para aprender alguma coisa. Quando o conquistador espanhol Alvar Núñez Cabeza de Vaca chegou lá, em 1542, eles descobriram que existia um bicho chamado cavalo. Ficaram assustados, mas logo aprenderam a manejar o animal. Eram tão bons nisso que montavam sem cela. Lá pelo ano 1700 tinham mais de 8 mil cavalos. Em 1778, quando os portugueses partiram para a briga de novo, os índios ofereceram uma trégua e entregaram suas mulheres aos inimigos.

À noite, enquanto os europeus se divertiam com as moças, eles atacaram e mataram todos que viram pela frente. Os guaicurus existem até hoje – seus descendentes são os kadiwéus, que vivem no Mato Grosso do Sul. Bom, voltando para a metade do século 17. Como a situação estava difícil no Centro-Oeste, o jeito foi continuar indo para o norte. Até que, depois de uma viagem de três anos, o grupo de Raposo Tavares chegou a Belém do Pará, em 1651. Em 1671, quando os índios tapuias se rebelaram contra os donos dos engenhos de açúcar do Nordeste, os bandeirantes foram contratados para agir. Nessa época, Domingos Jorge Velho ficou muito famoso; depois ele seria um dos responsáveis pela derrota de Zumbi e seu Quilombo dos Palmares. Foi também nessa época que, pela primeira vez, alguém usou a expressão “paulista” para se referir às pessoas que vinham de São Paulo.

Alguns anos depois, as operações de caça – conhecidas como bandeiras – ganharam uma nova motivação: procurar ouro. Em 1674, Fernão Dias Paes saiu de Guaratinguetá, no vale do Paraíba, em São Paulo, e se tornou o primeiro a chegar à região que logo seria chamada de Minas Gerais. Ele morreu sem achar metais preciosos, mas outros continuaram a procura. Em 1720, Bartolomeu Bueno da Silva e seu filho ocuparam o interior de Goiás enganando os índios. Eles diziam que tinham o poder de fazer a água pegar fogo. Levantavam uma garrafa de cachaça, acendiam um fósforo... e o cacique se rendia.

Com o extermínio dos índios, o país passou a usar os escravos da África e os bandeirantes voltaram para suas terras, para viver como fazendeiros. O Brasil tinha ficado bem maior, mas pagou um preço alto: a vida de milhares de índios.

site:http://historia.abril.com.br/gente/bandeirantes-destruir-dominar-435260.shtml

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