terça-feira, 16 de novembro de 2010

JK: o Brasil que quase deu certo


Imagine um país que fosse campeão mundial em otimismo. Que fizesse bonito não só no futebol, mas também no tênis, no boxe e no atletismo. Pense num povo que pudesse se orgulhar de produzir uma música sofisticada, que conquistasse as paradas de sucesso de todo o mundo. Imagine uma nação que conquistasse, de uma só vez, o maior prêmio do festival de cinema de Cannes e também o Oscar de melhor filme estrangeiro. Pense numa economia em que as indústrias se multiplicassem rápido, os dólares não parassem de entrar e a produção de petróleo aumentasse 15 vezes em cinco anos. E imagine ainda que essa terra tivesse uma nova capital, construída do zero, e que ela fosse a cidade mais moderna do planeta inteiro.

Esse país, acredite, existiu. E o mais incrível: era o Brasil. Na segunda metade da década de 50, parecia que havíamos chegado lá, que nunca mais seríamos uma nação rural, doente, analfabeta e condenada ao subdesenvolvimento. O maior responsável por isso era o presidente Juscelino Kubitschek, uma figura sorridente e jovial que conduziu o país do trauma da morte de Getúlio Vargas para a alegria de pertencer ao Primeiro Mundo – ainda que só por alguns anos.



Depois que Getúlio se matou, em agosto de 1954, o Brasil entrou em crise. Em outubro, o povo escolheu Juscelino como presidente. Ele só tomou posse, em janeiro de 1955, porque conseguiu driblar os adversários, que queriam dar um golpe e assumir o poder. Mineiro de Diamantina, ex-telegrafista, dono de uma carreira política meteórica, o médico JK chegou à presidência prometendo fazer o Brasil saltar 50 anos em 5. Para cumprir a promessa, ele apostava todas as fichas no Plano de Metas, um listão de 30 prioridades nas áreas de energia, indústrias, transportes, alimentação e educação. Ao contrário de seu antecessor, que queria que todas as grandes empresas operando no Brasil fossem nacionais, Juscelino saiu em busca de empresas de todo lugar do mundo.

Escada rolante e Fusca

Na época em que o país era apresentado à escada rolante e inventava a bossa nova, as empresas estrangeiras eram incentivadas a se instalar no Brasil. Uma delas foi a montadora de automóveis Volkswagen, que começou a fabricar aqui Fuscas e Kombis. Entre 1955 e 1961, entraram no Brasil 2 bilhões de dólares. Além de carros bem mais baratos, esse dinheiro representou para o brasileiro um contato inédito com a tecnologia. De uma sentada só, as casas das pessoas passaram a ter liquidificadores, vitrolas, geladeiras, enceradeiras, espremedores de frutas e, principalmente, televisores.

Foi uma empolgação impressionante. Para os novos carros rodarem, era preciso fazer estradas, e elas começaram a integrar o interior do país. Integrar mesmo, e muito rápido: nos primeiros dois anos do governo JK, o número de rodovias asfaltadas triplicou. Para abastecer as casas e as novas indústrias de energia, era necessário construir hidrelétricas. Foi nessa época, também, que o presidente encarou o sonho de construir do zero uma nova capital para o Brasil. Depois de 42 meses, Brasília estava pronta, e era a cidade mais moderna do planeta.

Mas é claro que, em se tratando de Brasil, em algum momento essa história feliz teria que acabar mal.

O problema do Plano de Metas é que ele endividava demais o país. O governo estava gastando muito mais do que arrecadava, e o dinheiro estrangeiro não foi o suficiente para segurar o rombo. Em 1958, a inflação saltou de 19% para 30% ao ano. Com isso, os salários ficaram menores, e 56 greves estouraram de uma só vez em 1959.

Crise econômica

Em outubro de 1960, quando chegou a hora de novas eleições, Juscelino estava mal. Nem conseguiu eleger seu sucessor – seu candidato, o marechal Henrique Teixeira Lott, perdeu para o governador de São Paulo, Jânio Quadros. Mas Juscelino ainda sonhava em voltar, nas eleições de 1965. Acontece que, em 1º de abril de 1964, um golpe militar acabou com todas as suas chances. Perseguido pela ditadura, ele chegou a ser preso em 1968, e desde então foi forçado a ficar longe da política. Morreu em 22 de agosto de 1976, por causa de um acidente de automóvel. Muita gente achou que a batida em um caminhão, na rodovia Dutra, foi armada pela ditadura, mas isso é pouco provável. De toda forma, quando JK morreu, a euforia estava mais distante do que nunca.

site:http://historia.abril.com.br/politica/jk-brasil-quase-deu-certo-435274.shtml

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